sábado, 26 de junho de 2010

Ascendência de Cristo - final

Não poderia falar de todas essas mulheres tão maravilhosas e tão parecidas conosco sem fazer um "fechamento" do assunto.

Nós sempre imaginamos que as pessoas que se dizem cristãs ou que tenham algum tipo de crença em um Ser Superior sejam "perfeitas". Quando vemos um político ser acusado de corrupção, achamos normal. Quando alguém fala que o juiz é ladrão, num jogo de futebol, rimos daquilo, e pensamos: "todos são", especialmente quando seu time do coração foi o prejudicado pela má arbitragem. Mas quando se fala de um "crente" que comete erros, nós nos espantamos.

De certa forma, é normal o assombro. Afinal, o crente é aquela pessoa que está sempre aprendendo aos pés de Jesus, está sempre lendo a Bíblia e vendo o que é certo e o que é errado. E se não está fazendo essas coisas, deveria. Então, ele vai sempre agir da forma mais correta possível, e provavelmente nunca vai cometer erros.

Deveria ser assim, mas não é. Todos nós, creiamos em Deus ou não, somos pecadores por natureza. Temos uma natureza pecaminosa, que tende ao erro constantemente. Não foi à toa que Isaías disse: "Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam" (Isaías 64:6). Um tanto forte, não? Forte, mas verdadeiro. Somos pecadores, queiramos ou não. E mesmo quando nos voltamos a Deus e clamamos a Ele, mantemos comunhão constante, diária, lemos a Bíblia e oramos, em busca de santificação - que vem dEle apenas e não de nada que façamos - nós continuaremos a ser pecadores.

Por isso, quando tentado a esperar perfeição de um crente ou de qualquer personagem bíblico, olhe para si mesmo, e veja como você realmente é. Não estou aqui querendo desculpar os erros de ninguém, mas sim tentando fazer que você entenda quão gratos devemos ser porque as mulheres da ascendência de Cristo eram tão falhas. Se Deus tivesse colocado ali apenas mulheres "perfeitas", isso significaria pelo menos duas coisas: 1) Ele só aceita as perfeitas para tomarem parte na Sua obra terrestre, e 2) nós não teríamos qualquer identificação com elas. Seriam como semi-deusas, cujas histórias iríamos apenas admirar, mas nunca nos serviriam de inspiração, pois seriam totalmente diferentes das nossas.

Mas louvado seja Deus que é o contrário. Ele colocou mulheres imperfeitas, como nós. Mentirosas, incompreensivas, com um passado que gostariam de esquecer... Quis nos mostrar que nos aceita como somos, e usa-nos, ainda que sejamos pecadoras, para fazer coisas maravilhosas acontecerem. Graças a Deus que Ele chamou mulheres e homens com os quais podemos nos identificar. Graças a Deus que podemos ter certeza de que Ele é capaz de nos usar e ainda nos transformar - não importando qual tenha sido nossa vida pregressa - para que sejamos aquilo com que Ele sempre sonhou.

Essa série de reflexões acaba aqui. Mas que nós nunca nos esqueçamos dos exemplos de Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba e Maria. Mulheres como nós, mas que se permitiram usar pelo Senhor, tornando-se canais para a salvação dos homens. Que esse seja o seu e o meu desejo: servir, ainda que pecadores.

sábado, 12 de junho de 2010

Ascendência de Cristo - parte V: Maria

“E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo. ” (Mateus 1:16)

Chegamos à última mulher mencionada na genealogia de Jesus: sua própria mãe. De todas as mulheres que vimos até agora, ela talvez seja a que pareça a mais pura, a mais "perfeita". Afinal, ela não teve relações sexuais com o sogro, não pertencia a um povo pagão e idólatra, não era adúltera e muito menos prostituta.

Realmente, todos os indícios apontam para uma moça especial. E isso soa até óbvio, porque Deus não escolheria qualquer uma para gerar o Messias. Deveria ser alguém que O conhecesse e temesse, e estivesse sempre buscando a Sua vontade.

Maria, como todo povo judeu, esperava pelo Messias. Ela sabia que ele nasceria de uma virgem: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Isaías 7:14). Todo o povo de Israel sabia disso, pois conhecia a profecia de Isaías. Mas veja o que aconteceu quando o anjo Gabriel foi avisá-la do que aconteceria:
“[E]ntrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:28-35).
Ora, se Maria sabia que o Cristo nasceria de uma virgem, e o anjo estava lhe dizendo que ela seria a mãe dEle (Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim), por que o espanto, ao constatar que ela não tinha "relação com homem algum"?

Maria podia estar familiarizada com as escrituras, mas na hora H, vacilou. Porém, isso não durou muito. Logo aceitou o chamado a ela feito, e pronunciou algumas das palavras de entrega mais belas da Bíblia: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”(Lucas 1:38). Maria foi muito corajosa, pois naquela época, se uma mulher engravidasse sem ser casada, ela seria apedrejada. Mas Maria nada temeu, pois entendeu que podia confiar no Seu Senhor.

A escritora Ellen White nos dá um vislumbre de como eram os pensamentos de Maria, quando Jesus já era adulto:
A vida de Cristo foi assinalada pelo respeito e o amor à Sua mãe. Maria acreditava em seu coração que a santa Criança dela nascida, era o tão longamente prometido Messias; não ousava, entretanto, exprimir essa fé. Foi, através de sua existência terrestre, uma partilhadora dos sofrimentos do Filho. Com dor testemunhava as provações que Lhe sobrevinham na infância e juventude. Por justificar o que sabia ser direito em Seu procedimento, via-se ela própria em situações difíceis. Considerava as relações domésticas, e a terna solicitude da mãe em torno dos filhos, de vital importância na formação do caráter. Os filhos e filhas de José sabiam isto e, prevalecendo-se de sua ansiedade, procuravam corrigir as atitudes de Jesus segundo norma deles.

Maria argumentava muitas vezes com Jesus, e insistia em que se conformasse com os usos dos rabis. Ele, porém, não podia ser persuadido a mudar Seus hábitos de contemplar as obras de Deus e buscar aliviar os sofrimentos dos homens ou mesmo dos mudos animais. Quando os sacerdotes e mestres solicitavam o auxílio de Maria em dirigir Jesus, ficava grandemente perturbada; o coração tranqüilizava-se-lhe, porém, quando Ele lhe apresentava as declarações das Escrituras em apoio de Seu proceder.

Por vezes ela vacilava entre Jesus e Seus irmãos, que não criam ser Ele o Enviado de Deus; no entanto, abundantes eram as provas de ser divino o Seu caráter. Ela O via sacrificar-Se pelo bem dos outros. Sua presença criava em casa uma atmosfera mais pura, e Sua vida era como um fermento operando entre os elementos da sociedade. Puro e incontaminado, andava entre os excluídos, os rudes, os descorteses; entre injustos publicanos, ímpios samaritanos, soldados pagãos, rústicos camponeses e a multidão mista. Dirigia aqui e ali uma palavra de simpatia, ao ver criaturas fatigadas, vergadas ao peso de duras cargas. Partilhava de seus fardos, e revelava-lhes as lições que aprendera da natureza acerca do amor, da benevolência e bondade de Deus (Ellen White, O Desejado de todas as nações, p. 91).
Maria não era perfeita, como alguns de nós poderíamos pensar. Não quero dizer com isso que ela era uma mulher má, presunçosa, orgulhosa, ou qualquer coisa parecida. Aliás, qualquer tipo de desrespeito à lembrança dela é desprezível, pois para Deus cada filho Seu tem valor. Apenas precisamos desmistificar algo que muitos têm como certo: Maria não era santa, pelo menos, não como muitos entendem o "ser santa". Ela não era isenta de pecado, imaculada, como se imagina. Ela era pecadora como todos nós. Tinha seus defeitos, como acabamos de ver, mas também possuía muitíssimas qualidades.

Jesus nos advertiu quanto a qualquer tipo de possível idolatria que poderíamos desenvolver em relação àquela que foi Sua mãe terrestre. Disse Ele, quando algumas pessoas vieram lhe dizer que sua mãe e seus irmãos o procuravam, "[Q]ualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe" (Marcos 3:35). Jesus aqui queria nos mostrar que, qualquer que faz a vontade de Deus, tem para Ele o mesmo valor que tinham Seus parentes. Doutra feita, quando uma mulher disse que eram bem-aventurada aquela que O havia concebido e os seios que O haviam amamentado, Ele respondeu: "Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!" (Lucas 11:28). Jesus nos mostra que quem quer que guarda os ensinamentos de Deus é bem-aventurado, e não alguns poucos escolhidos.

Maria foi alguém muito especial, e essa meditação, como nenhuma das outras desta série, não teve o objetivo de depreciá-la, muito pelo contrário. Mas devemos nos lembrar de que ela era como nós, nem melhor, nem pior. Tinha seus defeitos, e também suas qualidades. E é por isso mesmo que devemos nos alegrar de ela estar na genealogia de Cristo. Deus escolheu não pessoas "perfeitas", mas aquelas bem semelhantes a nós, cheias de problemas, dúvidas, fracassos, pecados, com o intuito de nos mostrar que Ele nos aceita como somos, e é capaz de operar verdadeiros milagres em nossas vidas e de nos usar para tomarmos parte em Sua santa obra.

Não quer você ser como Maria e dizer "sim, Senhor, quero que cumpras em mim o objetivo que tens, que eu possa ser instrumento Teu para a alegria de outros!". Não se acha digno? Nem Maria nem qualquer outra das cinco mulheres o era. Mas tenha isso em mente:

“pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. ” I Coríntios 1:27-28
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